terça-feira, dezembro 19, 2017

Introdução ao Novo Testamento - 21.


Continuação do post anterior.
Características Especiais. O Evangelho de João tem muitas características especiais. Dentre essas, examinaremos três que são as mais notáveis: sua relação com os Evangelhos sinóticos, seu vocabulário e seu ponto de vista distinto de Cristo.
Relação com os sinóticos. Ao compararmos o Evangelho de João com os evangelhos sinóticos, ficamos impressionados com o contraste. Apesar das distinções existentes entre eles, os três Evangelhos sinóticos ainda se parecem muito mais entre si do que qualquer deles se assemelha com o Evangelho de João. Por exemplo, o ministério de Jesus na Galiléia geralmente ocupa o maior volume dos evangelhos sinóticos. Porém, o ministério de Jesus na Judéia recebe atenção quase exclusiva da parte de João. Com a exceção dos dois milagres registrados em João 6.1-24 e a narrativa do julgamento, da morte e da ressurreição de Jesus, o conteúdo do Evangelho de João não aparece nos outros Evangelhos.
Porém, apesar desses contrastes, há alguns elos importantes entre João e os sinóticos. Apesar de que a maior parte do material de João é diferente do material dos Evangelhos sinóticos, nada desse material se contradiz. Pelo contrário, geralmente suplementa e provê o pano-de-fundo dos eventos que descrevem. Por exemplo, mediante um estudo de Mateus, Marcos e Lucas, devemos concluir que o ministério de Jesus durou um pouco mais de um ano. Mas João menciona três festas da Páscoa, festividades essas que ocorriam apenas uma vez em cada ano. Assim, sabemos que o ministério de Jesus ocupou, pelo menos, três anos. A informação dada por João, pois, ilumina o ponto de vista sinótico da vida de Jesus, fazendo-o ainda de outras maneiras.
Temos verificado que João tinha um certo alvo em mente, ao escrever sua narrativa. É possível que quando ele escreveu o seu Evangelho, os três evangelhos sinóticos já estivessem em circulação entre os cristãos da época. Sem se importar se isso foi assim ou não, o fato é que ele não os duplicou. Conforme o Espírito Santo o orientou, ele se valeu de sua larga e rica experiência como o discípulo a quem Jesus amava, e apresentou a sua percepção ímpar de Cristo e de Sua missão. Hoje em dia, beneficiamo-nos com os profundos discernimentos e com as verdades que Deus lhe deu para ele compartilhá-los conosco.
Vocabulário. Certos termos são usados com maior freqüência no Evangelho de João do que nos Evangelhos sinóticos. Entre esses alistamos os seguintes: permanecer, crer, festa, judeus, luz, vida e viver, amor e amar, verdade e verdadeiro, testemunha e mundo. Esses termos têm sentidos especiais. Precisam ser cuidadosamente estudados, pois com freqüência provêem a chave para os pensamentos expressos por João.
Ponto de vista distinto de Cristo. Todos os quatro Evangelhos apresentam Cristo como o Filho de Deus. Porém, foi João quem declarou o fato mediante a linguagem mais franca, dizendo que Jesus é Deus e sempre existiu (João 1.1,14; 8.58; 17.5). João começou a sua narrativa não à parte do começo, mas no começo. Para João, Belém e a manjedoura não assinalou o começo da existência de Cristo, mas apenas o tempo em que Ele se tornou “carne”.
O evangelho de João também revela outra verdade acerca da vontade de Cristo. João percebeu que Ele era o Verbo. Entre os escritores bíblicos, João foi o único a usar esse termo em alusão a Jesus. Conforme seus leitores o entendiam, a palavra verbo tinha diversas associações. No seu uso ordinário, salientava os meios mediantes os quais os homens se comunicam uns com os outros. Para os judeus “o Verbo de Deus” ou “a Palavra de Deus”, era uma expressão familiar, encontrada no Antigo Testamento (Salmo 33.6, como um exemplo). Alguns dentre os judeus aplicavam essa expressão ao Messias que viria. Para os gregos, porém, significava a manifestação da razão divina. João falou de todos esses significados quando asseverou ousadamente que Jesus era o Verbo de Deus. Dessa maneira, mostrou, tanto para os gregos quanto para judeus, que Jesus era Deus comunicando-se com os homens, como a plena expressão de Sua razão, vontade e propósito, feita de um modo que o homem fosse capaz de entendê-los.

Continua no próximo post.

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