terça-feira, dezembro 19, 2017

Introdução ao Novo Testamento - 21.


Continuação do post anterior.
Características Especiais. O Evangelho de João tem muitas características especiais. Dentre essas, examinaremos três que são as mais notáveis: sua relação com os Evangelhos sinóticos, seu vocabulário e seu ponto de vista distinto de Cristo.
Relação com os sinóticos. Ao compararmos o Evangelho de João com os evangelhos sinóticos, ficamos impressionados com o contraste. Apesar das distinções existentes entre eles, os três Evangelhos sinóticos ainda se parecem muito mais entre si do que qualquer deles se assemelha com o Evangelho de João. Por exemplo, o ministério de Jesus na Galiléia geralmente ocupa o maior volume dos evangelhos sinóticos. Porém, o ministério de Jesus na Judéia recebe atenção quase exclusiva da parte de João. Com a exceção dos dois milagres registrados em João 6.1-24 e a narrativa do julgamento, da morte e da ressurreição de Jesus, o conteúdo do Evangelho de João não aparece nos outros Evangelhos.
Porém, apesar desses contrastes, há alguns elos importantes entre João e os sinóticos. Apesar de que a maior parte do material de João é diferente do material dos Evangelhos sinóticos, nada desse material se contradiz. Pelo contrário, geralmente suplementa e provê o pano-de-fundo dos eventos que descrevem. Por exemplo, mediante um estudo de Mateus, Marcos e Lucas, devemos concluir que o ministério de Jesus durou um pouco mais de um ano. Mas João menciona três festas da Páscoa, festividades essas que ocorriam apenas uma vez em cada ano. Assim, sabemos que o ministério de Jesus ocupou, pelo menos, três anos. A informação dada por João, pois, ilumina o ponto de vista sinótico da vida de Jesus, fazendo-o ainda de outras maneiras.
Temos verificado que João tinha um certo alvo em mente, ao escrever sua narrativa. É possível que quando ele escreveu o seu Evangelho, os três evangelhos sinóticos já estivessem em circulação entre os cristãos da época. Sem se importar se isso foi assim ou não, o fato é que ele não os duplicou. Conforme o Espírito Santo o orientou, ele se valeu de sua larga e rica experiência como o discípulo a quem Jesus amava, e apresentou a sua percepção ímpar de Cristo e de Sua missão. Hoje em dia, beneficiamo-nos com os profundos discernimentos e com as verdades que Deus lhe deu para ele compartilhá-los conosco.
Vocabulário. Certos termos são usados com maior freqüência no Evangelho de João do que nos Evangelhos sinóticos. Entre esses alistamos os seguintes: permanecer, crer, festa, judeus, luz, vida e viver, amor e amar, verdade e verdadeiro, testemunha e mundo. Esses termos têm sentidos especiais. Precisam ser cuidadosamente estudados, pois com freqüência provêem a chave para os pensamentos expressos por João.
Ponto de vista distinto de Cristo. Todos os quatro Evangelhos apresentam Cristo como o Filho de Deus. Porém, foi João quem declarou o fato mediante a linguagem mais franca, dizendo que Jesus é Deus e sempre existiu (João 1.1,14; 8.58; 17.5). João começou a sua narrativa não à parte do começo, mas no começo. Para João, Belém e a manjedoura não assinalou o começo da existência de Cristo, mas apenas o tempo em que Ele se tornou “carne”.
O evangelho de João também revela outra verdade acerca da vontade de Cristo. João percebeu que Ele era o Verbo. Entre os escritores bíblicos, João foi o único a usar esse termo em alusão a Jesus. Conforme seus leitores o entendiam, a palavra verbo tinha diversas associações. No seu uso ordinário, salientava os meios mediantes os quais os homens se comunicam uns com os outros. Para os judeus “o Verbo de Deus” ou “a Palavra de Deus”, era uma expressão familiar, encontrada no Antigo Testamento (Salmo 33.6, como um exemplo). Alguns dentre os judeus aplicavam essa expressão ao Messias que viria. Para os gregos, porém, significava a manifestação da razão divina. João falou de todos esses significados quando asseverou ousadamente que Jesus era o Verbo de Deus. Dessa maneira, mostrou, tanto para os gregos quanto para judeus, que Jesus era Deus comunicando-se com os homens, como a plena expressão de Sua razão, vontade e propósito, feita de um modo que o homem fosse capaz de entendê-los.

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sábado, novembro 11, 2017

Introdução ao Novo Testamento – 20.
Continuação do post anterior.
João: Evangelho do Filho de Deus.
Para muitos o Evangelho de João é o livro preferido das Escrituras. Reveste-se de uma qualidade única de profundeza e beleza espiritual; Sua mensagem arrebata a imaginação e desafia o coração de maneira corajosa e desafiadora. Foi escrito pelo apóstolo João, “o discípulo a quem Jesus amava”, e põe o leitor em íntima comunhão com o Mestre, tal como experimentaram aqueles que andaram mais próximos do Senhor. Quando estudarmos as verdades ali apresentadas, que nossa comunhão com Jesus se torne ainda mais íntima e rica, como resultado.
Autor. A maioria dos eruditos da Bíblia concorda que João, o apóstolo, foi autor do quarto Evangelho. Ele foi um dos doze discípulos de Jesus. Juntamente com Pedro e Tiago, ele fazia parte do “círculo íntimo” dos mais chegados associados do Senhor (Veja Marcos 5.37; 9.2; e 14.33). Ele era “aquele a quem Jesus amava” (Veja em João 13.23; 19.26; 20.2; e 21.7,20). Tiago era irmão de João, e ambos eram filhos de Zebedeu (Mateus 5.21). João foi testemunha ocular dos acontecimentos por ele registrados (Veja João 1.14; 19.35; e 21.24).
Ênfase. O próprio João declarou claramente o propósito que tivera ao escrever o relato da vida de Jesus Cristo: “Jesus, pois, operou também, em presença de seus discípulos, muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para que creias que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (João 20.30,31).
Vemos, então, que João selecionou cuidadosamente a sua matéria com um alvo específico em mente: levar as pessoas a crerem que Jesus é o Filho de Deus. A matéria escolhida por João enfatizava as obras e as palavras de Deus. Juntos, esses fatores formam evidências convincentes de que Jesus era aquilo que afirmava ser. João também mostrou como o povo reagiu a Jesus Cristo. A reação deles ilustra o seu tema central da fé.
João dava atenção às obras realizadas por Jesus. As narrativas de sete milagres estão incluídas em seu Evangelho. João denominou esses milagres de sinais, pois mostram coletivamente a completa autoridade de Jesus como o Filho de Deus, salientando inequivocamente a Sua deidade.
Além desses sete sinais, há mais um, o maior de todos: a ressurreição de Jesus dentre os mortos (João 20 e 21). Nas palavras do apóstolo Paulo, Jesus foi “... designado Filho de Deus em poder... pela ressurreição dos mortos...” (Romanos 1.4). Esse acontecimento foi a prova coroadora de que Jesus é o Filho de Deus.
João também salientou as palavras de Jesus. A maioria dos discursos por ele registrados compõe-se de aspectos de Sua pessoa. Destacados pelo próprio Jesus. Entre esses estão as sete grandes passagens do “eu sou”, que são as seguintes:
1. “Eu sou o pão da vida” - João 6.35.
2. “Eu sou a luz do mundo” - João 8,12 e 9.5.
3. “Antes que Abraão existisse, eu sou” – João 8.58.
4. “Eu sou o bom pastor” – João 10.11.
5. “Eu sou a ressurreição e a vida” – João 11.25.
6. “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida” – João 14.6.
7. “Eu sou a videira verdadeira” – João 15.1.
Muitos eruditos da Bíblia encaram essas declarações de Jesus como expansões do trecho de Êxodo 3.14, onde Deus diz a Moisés que Seu nome era “Eu sou”. Elas mostram não somente a deidade de Cristo (João 8.58), mas também mostram como Ele revelou o Pai.
Além dessas passagens, João incluiu muitos outros ensinamentos importantes, como aqueles a respeito do novo nascimento (João 3), a água viva (João 4), a autoridade do Filho (João 5) e a obra do Espírito Santo (João 7.14,16). Ele também registrou a oração de Jesus acerca de si mesmo e de Seus discípulos (João 17). Essa oração ilumina ainda mais a sua natureza, a Sua unidade com o Pai, e o Seu propósito eterno para todos aqueles que nEle confiarem.
Juntamente com essa ênfase sobre as palavras e as obras de Jesus, João pôs em destaque as entrevistas pessoais de Jesus com diversas pessoas, homens e mulheres. João mostrou como Jesus os desafiou para crerem nEle. Essas entrevistas relatadas por João são vívidas ilustrações do tema principal do Evangelho de João – a fé em Jesus Cristo.
Quando alguém examina o registro de João sobre as palavras, as obras e as entrevistas pessoais de Jesus, não pode ter dúvidas sobre a razão de ele ter escrito o seu testemunho: expor a verdade que a fé em Jesus, o Filho de Deus, é a única e essencial chave da própria vida (João 3.36).

Continua no próximo post.

segunda-feira, outubro 09, 2017

Introdução ao Novo Testamento - 19.


Continuação do post anterior.
Continuação do Evangelho de Lucas.
Conteúdo. A seqüência de eventos, em Lucas, segue o padrão geral daquilo que aparece nos Evangelhos de Mateus e de Marcos. Também há considerável quantidade de material que só Lucas inclui. O alvo principal de Lucas foi apresentar Jesus como o homem perfeito, impulsionado pelo Espírito, Salvador de todos os homens. Seu Evangelho, entre os sinóticos, é o único onde o título específico, Salvador”, é usado para indicar Jesus (v. 2.11). O conteúdo desse Evangelho pode ser dividido em:
  1. O Salvador é preparado (Lucas 1.1 a 4.13).
  2. O Salvador ministra (Lucas 4.14 a 9.17).
  3. O Salvador entra em conflito (Lucas 9.18 a 19.28). Quase o conteúdo inteiro desta seção pertence exclusivamente a Lucas. Especificamente, a maior parte da matéria contida no trecho 9.51 a 18.14 e 19.1 a 19.28 se encontra apenas no terceiro Evangelho.
  4. O Salvador ganha a nossa Salvação (Lucas 19.29 a 24.53). Quando lemos o registro da vinda de Jesus, lindamente escrito por Lucas, vemos que Ele cumpriu a missão que Ele mesmo anunciou em 4.18,19. Vemos como o Espírito do Senhor desceu sobre Ele. Vemos como Ele pregou as Boas Novas aos pobres, anunciando a liberdade aos presos, restaurando a vista aos cegos, libertando os oprimidos e proclamando o ano do favor divino. Quão extraordinário Salvador!
Lucas pertence provavelmente à terceira geração cristã. O tempo e o lugar da sua atividade literária são incertos; provavelmente os anos 90, talvez na Ásia Menor. Exclui-se que o autor das duas obras lucanas seja testemunha ocular dos fatos narrados. Ele mesmo apela em Lucas 1.2 para “os que desde o começo foram testemunhas oculares e ministros da palavra“, isto é, para a tradição apostólica. Estas palavras se referem, antes de tudo, a tradição sobre Jesus, portanto ao conteúdo do Evangelho de Lucas.
O que Lucas escreve não é nenhum segredo, reservado aos que crêem; ao contrário, é acessível, mesmo aqueles que são alheios à tradição cristã e à exposição lucana, creiam ou não. Trata-se, com efeito, de fatos que “entre nós se realizaram” (Veja Lucas 1.1), logo de pleno domínio público. O pregador pode, portanto, supor que os ouvintes saibam de que se trata (Veja Lucas 24.18). Lucas luta por uma interpretação de acordo com a verdade, em comparação com a qual as falsas idéias, que devem ser rejeitadas, são “ignorância” (Veja Lucas 23.34). Consolidação e difusão da fé são as coisas mais importantes para o teólogo e historiador Lucas.
A forma expositiva lucana adota, portanto, uma posição intermediária entre pregação e informação. Isso se verifica especialmente quando se trata do conteúdo fundamental da pregação, isto é, da morte e da ressurreição de Jesus. Lucas quer mostrar que, apesar da Sua paixão e morte, Jesus é o Cristo porque Deus o ressuscitou. Esse argumento vale para os judeus, que se recusam a ver em Jesus, o Cristo, alegando que o Messias não morre e que, por isso, o Jesus crucificado não pode ser o Messias. Lucas tenta provar-lhes que o erro desta idéia foi demonstrado pela ressurreição de Jesus.
Lucas se compraz em salientar que os “pobres”, no sentido literal, sem a qualificação teológica de “pobres de espírito”, de Mateus (Veja Mateus 5.3), são os destinatários privilegiados da Boa nova (Veja Lucas 4.18; 7.22). Uma das bem-aventuranças de Jesus é endereçada precisamente aos pobres (Veja Lucas 6.20; 16.19-31).
Lucas não desenvolve nenhum modelo de vida cristã, na suposição de que cada época traga as suas próprias exigências. O caminho que leva ao reino de Deus passa pelas tribulações (Veja Atos 14.22). Pelo nome de Jesus o cristão deve estar pronto para aceitar em todas as circunstâncias as exigências da sua adesão a Cristo, até ao sacrifício da própria vida (Veja Lucas 9.23). Lucas procura, portanto, constantemente chamar a atenção do cristão para a responsabilidade que decorre para ele da sua situação pessoal.

Continua no próximo post.

sábado, setembro 30, 2017

Introdução ao Novo Testamento – 18.
Continuação do post anterior.
Evangelho de Lucas, continuação.
Características Especiais. Além dos aspectos da vida de Jesus que Lucas ressaltou, há muitas características especiais em sua narrativa. Para exemplificar, ele dá atenção ao papel desempenhado por certos grupos de pessoas, como mulheres, crianças e os pobres. Também, as palavras utilizadas e os detalhes incluídos demonstram que o autor estava familiarizado com a profissão médica. Lucas é o mais literário dos quatro evangelhos: contém diversas belas canções e poemas, e conta com um rico vocabulário. Suas páginas também revelam um interesse pala importância universal da mensagem de Cristo e da obra do Espírito Santo. Todas essas características emprestam ao evangelho de Lucas um valor todo especial. Examinemos alguns aspectos dessas características:
O Papel das mulheres, crianças e pobres. Com freqüência, Lucas apresentou uma descrição mais completa das mulheres e das crianças envolvidas na vida e no ministério de Jesus. Em sua narrativa, Lucas também registrou várias histórias curtas e parábolas que abordam especificamente a pobreza e a riqueza; e a maioria dessas breves narrativas não aparece nos outros Evangelhos.
As parábolas sobre a pobreza e a riqueza aparecem exclusivamente no Evangelho de Lucas, incluindo aquela notável sobre o rico insensato (veja em Lucas 12.13-34). Quão vividamente essa história nos ensina quão importante é compreender quais são as verdadeiras riquezas!
A Perspectiva de um médico. Muitos eruditos da Bíblia acham que o Evangelho de Lucas oferece evidências de que foi escrito por um médico. A narrativa de Lucas com freqüência demonstra maior interesse pelos enfermos do que se vê nas narrativas de Marcos e Mateus. Notemos, por exemplo, a mais completa narrativa dada por Lucas, em contraste com Marcos, das doenças ou enfermidades curadas por Jesus nos exemplos abaixo:
  • Marcos 1.30: “acamada com febre”; Lucas 4.38: “enferma com febre muito alta”.
  • Marcos 1.40: “era um leproso”; Lucas 5.12: “um homem coberto de lepra”.
  • Marcos 3.1: “um homem que tinha uma das mãos mirradas”; Lucas 6.6: “Um homem cuja mão direita estava mirrada”.
  • Marcos 14.47: “cortou-lhe a orelha”; Lucas 22.50,51: “cortou-lhe a orelha direita”. Só Lucas acrescenta que Jesus tocou a orelha cortada e a curou.
Ponto de vista universal. O Evangelho de Lucas mostra que ele queria deixar claro para o mundo a importância universal da vida e da obra de Jesus. Em seus escritos, Jesus é revelado não somente como figura viva da história judaica, mas também como o Salvador de todos os homens. Por muitas vezes Seus milagres e ensinos visavam apenas às pessoas de nações gentílicas.
A Obra do Espírito Santo. Entre os três Evangelhos sinóticos, Lucas é o que tem maior número de referências à atuação do Espírito Santo. Ele havia mostrado como o Espírito Santo esteve envolvido em cada aspecto da vida de Cristo. Também observou características do seu ministério na vida de outras pessoas importantes.
Beleza literária. Lucas incluiu quatro magníficos cânticos ou poemas em seu Evangelho. São os cânticos de Maria (1.46-55), de Zacarias (1.67-79), dos anjos (2.14), e a oração de Simeão (2.29-32). Cada um é uma obra prima de expressão e louvor. Emprestam ao Evangelho de Lucas uma beleza toda especial. Além disso, a habilidade literária de Lucas é vista pela maneira como ele escreveu sobre os eventos da vida do Mestre e expressou as parábolas e os ensinos que Jesus deu. Notemos, por exemplo, as vívidas descrições do filho pródigo e de seu invejoso irmão (15.11-32) e do pomposo fariseu e do penitente publicano (18.9-14). O habilidoso registro desse ensino de Jesus faz os personagens adquirirem vida diante de nós.
A capacidade de Lucas para narrar os eventos não é menos impressionante. Quão profundamente comovidos e animados sentimo-nos quando lemos sua simples descrição do aparecimento de Jesus aos Seus abatidos discípulos, na estrada para Emaús (24.13-32)! Verdadeiramente, Lucas era um artista no uso das palavras, e nós é que nos beneficiamos de seu talento.

Continua no próximo post.

sexta-feira, setembro 15, 2017

Introdução ao Novo Testamento – 17.

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Lucas: O Evangelho do Salvador.
O Evangelho de Lucas foi escrito pelo homem a quem o apóstolo Paulo chamou de “o médico amado” (Veja em Colossences 4.14: “Saúda-vos Lucas, o médico amado, e também Demas” - RA). O próprio Lucas descreveu o seu Evangelho. Ele disse que era um livro que relatava “acerca de tudo que Jesus começou, não só a fazer, mas a ensinar, até ao dia em que foi recebido em cima, depois de ter dado mandamentos, pelo Espírito Santo, aos apóstolos que escolhera”. (Atos 1.1,2). Quando examinamos o Evangelho que traz o nome de Lucas, ficamos mais familiarizados com o Salvador a quem amamos e servimos, e acerca de quem Lucas escreveu com tão grande eloqüência.
Autor. Com base nas evidências que nos são fornecidas pelo Novo Testamento, podemos concluir que Lucas era um gentio muito instruído. Era homem bem versado no conhecimento médico de seus dias. É provável que ele fosse natural de Antioquia. Lucas também escreveu o Livro de Atos, no qual registrou os eventos que acompanham a formação e a expansão da Igreja. Por essa razão, o evangelho que ele escreveu pode ser mais exatamente descrito como a primeira parte da narrativa em dois volumes à respeito dos começos do Cristianismo (a segunda parte é o Livro de Atos). Era amigo chegado do apóstolo Paulo e esteve com ele em diversas viagens missionárias, inclusive a última que levou Paulo até Roma.
Ênfase. Ao escrever o seu relato sobre a vida de Jesus, Lucas ressaltou seus aspectos humanos, históricos e teológicos. A humanidade de Jesus é um importante fato que Lucas expôs. Muitos estudiosos da Bíblia têm descrito o Evangelho de Lucas como o Evangelho da humanidade de Jesus. Lucas mostrou que Jesus foi um de nós, e que compartilhou plenamente das experiências comuns da vida humana.
Lucas também frisou a natureza histórica da vida de Cristo. Ele fez um cuidadoso exame de todos os fatos importantes, sobre os quais registrou uma narrativa exata (Veja v. 1.3: “igualmente a mim me pareceu bem, depois de acurada investigação de tudo desde sua origem, dar-te por escrito, excelentíssimo Teófilo, uma exposição em ordem” - RA). Lucas referiu-se a acontecimentos específicos que se sucederam na Palestina, no tempo do nascimento de Jesus (Veja v. 2.1-3: “Naqueles dias, foi publicado um decreto de César Augusto, convocando toda a população do império para recensear-se. Este, o primeiro recenseamento, foi feito quando Quirino era governador da Síria. Todos iam alistar-se, cada um à sua própria cidade” - RA). Também deu os nomes dos governantes e sumos sacerdotes que estavam no poder quando João Batista começou o seu ministério (Veja v. 3.1-3: “No décimo quinto ano do reinado de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos governador da Judéia, Herodes, tetrarca da Galiléia, seu irmão Filipe, tetrarca da região da Ituréia e Traconites, e Lisânias, tetrarca de Abilene, sendo sumos sacerdotes Anás e Caifás, veio a palavra de Deus a João, filho de Zacarias, no deserto. Ele percorreu toda a circunvizinhança do Jordão, pregando batismo de arrependimento para remissão de pecados” - RA). Esses pormenores tornam possível relacionar a vida de Jesus com uma determinada época, dentro da história política da região. Tais detalhes estabeleceram o fato de que Jesus era uma personagem histórica, um homem que efetuou a Sua missão em meio a circunstâncias perfeitamente reais, em meio ao turbilhão da Palestina do primeiro século da era cristã.
Além disso, Lucas iluminou certos aspectos teológicos do ministério de Jesus. Esses tinham a ver com a identidade de Jesus e com o sentido da Sua obra de salvação. Por exemplo, Lucas registrou que Jesus com freqüência referiu-se a Si mesmo usando o título de “Filho do homem”. Essa expressão foi o nome dado pelo profeta Daniel à pessoa que ele viu em uma visão, conforme está escrito em Daniel 7.13,14. Para Daniel, isso queria dizer que aquele que ele vira se parecia com um homem, era membro da raça humana.
Ao aplicar a si mesmo o nome “Filho do homem”, Jesus identificou-se com a pessoa a quem Daniel viu em sua visão profética. Porém, Jesus fez mais do que isso. Disse que o Filho do homem haveria de sofrer, morrer e ressuscitar (Veja Lucas 9.22: “dizendo: É necessário que o Filho do Homem sofra muitas coisas, seja rejeitado pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e pelos escribas; seja morto e, no terceiro dia, ressuscite” - RA). Essa foi uma declaração que os discípulos não puderam entender, pois mostrava que o Filho do Homem, que viria em grande poder e glória, antes disso seria rejeitado.
Além de salientar a identidade de Jesus como Filho do homem, Lucas também frisou Sua obra de salvação e Seu papel como redentor. Ele registrou o fato que a profetisa Ana falou a respeito do menino Jesus a todos quantos esperavam a redenção de Jerusalém (Veja Lucas 2.38: “E, chegando naquela hora, dava graças a Deus e falava a respeito do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém” - RA). Lucas narrou como alguns discípulos, na estrada para Emaús, disseram que eles haviam esperado que Jesus fosse aquele que remiria a Israel (v. 24.21).
O processo da redenção foi estabelecido por Deus e era bem conhecido entre os judeus. Significava que alguma coisa (ou alguém), que fosse vendido poderia ser adquirido de volta mediante um parente próximo daquele que vendera tal coisa. Dessa maneira, pois, poderia ser restaurada ao seu proprietário inicial. (O livro de Rute, no Antigo Testamento, é uma linda ilustração desse processo). Um redentor tinha de ser parente próximo, daquele que precisasse de ajuda.

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sexta-feira, agosto 25, 2017

Introdução ao Novo Testamento - 16.


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Evangelho de Marcos.
Detalhes interessantes para os romanos. Certas características especiais do evangelho de Marcos indicam que, provavelmente, circulou inicialmente em Roma. De acordo com Marcos 15.21: “E obrigaram a Simão Cireneu, que passava, vindo do campo, pai de Alexandre e de Rufo, a carregar-lhe a cruz” - RA, por exemplo, o homem que carregou a cruz de Jesus foi Simão Cireneu, pai de Alexandre e Rufo (nenhum dos outros três evangelhos dá os nomes dos filhos de Simão). Rufo foi mencionado pelo apóstolo Paulo, em sua epístola à igreja de Roma (Veja Romanos 16.13: “Saudai Rufo, eleito no Senhor, e igualmente a sua mãe, que também tem sido mãe para mim - RA). Além dessa referência, há outros lugares onde Marcos usou algum termo latino (o idioma falado por muitos romanos), a fim de explicar alguma palavra grega (ver, por exemplo, Marcos 15.16: “ Então, os soldados o levaram para dentro do palácio, que é o pretório, e reuniram todo o destacamento” - RA, onde o termo “pretório” é usado para explicar o sentido de “palácio”). Esses detalhes mostram que o evangelho de Marcos prestava-se especialmente a uma audiência romana.
Importância do evangelho. Marcos inicia seu relato intitulando-o “Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” (Veja Marcos 1.1: “Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” - RA). De acordo com Marcos, a mensagem pregada por Cristo era o evangelho (Veja Marcos 1.14,15: “Depois de João ter sido preso, foi Jesus para a Galiléia, pregando o evangelho de Deus, dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho” - RA). Trata-se de uma mensagem tão importante e valiosa que vale a pena que uma pessoa dê a sua própria vida por ela (Veja Marcos 8.35: Quem quiser, pois, salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por causa de mim e do evangelho Salva-la-á” - RA; e Marcos 10.29: “Tornou Jesus: Em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou campos por amor de mim e por amor do evangelho,” - RA). Trata-se de uma mensagem que deve ser proclamada ao mundo inteiro (Veja Marcos 13.10: “Mas é necessário que primeiro o evangelho seja pregado a todas as nações” - RA; e Marcos 14.9: “Em verdade vos digo: onde for pregado em todo o mundo o evangelho, será também contado o que ela fez, para memória sua” - RA).
Conteúdo. Ao escrever a sua narrativa sobre a vida de Cristo, Marcos preferiu permitir que os fatos e os registros dos eventos falassem por si mesmos. Ele descreveu uma série de episódios, fornecendo-nos vívidos quadros de Jesus e do avanço do Seu ministério. Embora a sua narrativa seja breve, contém todos os elementos mais importantes. Conforme já pudemos salientar, esse Evangelho contém muitos pormenores que mostram que se trata do testemunho de uma testemunha ocular.
Esboço. Marcos, o evangelho do Servo de Deus.
  1. O Servo é apresentado. Leia Marcos 1.1 a 1.13.
  2. As obras do Servo. Leia Marcos 1.14 a 7.23.
  3. O Servo é rejeitado. Leia Marcos 7.24 a 10.52.
  4. O Servo termina a Sua obra. Leia Marcos 11.1 a 16.20.
O Evangelho de Marcos mostra-nos como Jesus foi o Servo obediente, fiel e voluntário de Deus. Por este motivo, Deus o honrou com uma glória indescritível (Veja Filipenses 2.9-11: “Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.” - RA). Se você e eu permanecermos fiéis e obedientes em nosso serviço ao Senhor também receberemos honra (Veja em João 12.26: “Se alguém me serve, siga-me, e, onde eu estou, ali estará também o meu servo. E, se alguém me servir, o Pai o honrará” - RA).

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quarta-feira, agosto 09, 2017

Introdução ao Novo Testamento - 15.

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Marcos: O Evangelho do Servo de Deus.
O Evangelho de Marcos ressalta o ministério dinâmico e ativo de Jesus. Guiado pelo Espírito Santo, Marcos mostrou como Cristo cumpriu a sua missão na qualidade de servo obediente e diligente de Deus. Ao considerarmos o Evangelho que Marcos escreveu, examinaremos sua identidade, como autor do mesmo. Também verificaremos o conteúdo do livro, sua ênfase e suas características especiais.
Autor. Há um consenso geral entre os estudiosos do Novo Testamento, de que o autor do Evangelho de Marcos foi João Marcos, o jovem que foi em companhia de Paulo e Barnabé na primeira viagem missionária deles. (Veja em Atos 12.12: “Considerando ele a sua situação, resolveu ir à casa de Maria, mãe de João, cognominado Marcos, onde muitas pessoas estavam congregadas e oravam” - RA). Marcos era parente de Barnabé (Veja Colossences 4.10: “Saúda-vos Aristarco, prisioneiro comigo, e Marcos, primo de Barnabé (sobre quem recebestes instruções; se ele for ter convosco, acolhei-o” - RA), e associado chegado do apóstolo Pedro (Veja 1 Pedro 5.13: “ Aquela que se encontra em Babilônia, também eleita, vos saúda, como igualmente meu filho Marcos” - RA), onde Pedro chama Marcos de “filho” – um título dado como prova de afeto. De fato é bem provável que o Evangelho de Marcos exponha o relato de Pedro como testemunha ocular, pois Marcos estava bem familiarizado com a vida e a pregação de Pedro. O próprio Marcos pode ter estado presente em algumas das ocorrências que ele descreveu.
Ênfase. O relato de Marcos sobre Jesus Cristo salienta a vida e as atividades de Jesus, como o Filho de Deus (Veja Marcos 1.1: “Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” - RA). Assim sendo, exercia forte atração sobre a mente romana, com seu interesse pelo lado prático da vida. Contrastando com Mateus e Lucas, para exemplificar, Marcos não apresenta a genealogia de Cristo. Isso se coaduna com o interesse de Marcos pela vida de serviços de Jesus, pois a história da família de um servo não é importante. A ênfase de Marcos é indicada de outras maneiras, igualmente. O Evangelho de Lucas tem quase o dobro do volume do de Marcos. No entanto, Lucas narra vinte milagres, ao passo que Marcos narra dezoito milagres em pouco mais da metade do espaço. Apesar de que Marcos narrou muitos dos ensinamentos de Jesus, com freqüência ele simplesmente referiu-se ao fato de que Jesus ensinou (Veja os versículos 2.13; 6.2,6,34 e 12.35 como exemplos disso).
Marcos também ressaltou o fato de que Cristo realizou a Sua missão com zelo e propósito. Por muitas vezes Ele viu-se cercado por grandes multidões, a cujas necessidades Ele ministrava (Veja os versículos 3.7-12,20,21: 4.1,2; 5.21-34; 6.30-44, 53-56 e 8.1-13). O vocábulo grego euthus, traduzido por expressões como “imediatamente”, etc., aparece por quarenta e duas vezes nas páginas do Evangelho de Marcos (esse vocábulo só aparece por sete vezes no Evangelho de Mateus e por uma vez em Lucas). Essa expressão é usada por quatorze vezes acerca das próprias ações de Jesus, servindo de indicação da prontidão e espontaneidade com que Ele servia. O uso que Marcos fez desse vocábulo em diversos lugares, em sua narrativa, também demonstra o fato de que Cristo se apressava para chegar ao alvo de Sua vida de serviço. Disse Jesus aos Seus discípulos que “… o Filho de Homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida em resgate de muitos” (10.45). O Evangelho de Marcos é menos longo que os Evangelhos de Mateus e de Lucas e não inclui um registro detalhado da história da família de Jesus.
Um estilo vívido e vigoroso. Com freqüência, Marcos descreve eventos passados como se estivessem acontecendo no momento em que ele escrevia acerca dos mesmos. Para tanto ele usava uma forma verbal chamada “presente histórico”. Essa forma poderia ser representada em português por uma forma verbal presente com eu vejo, tu andas, ele fala. No entanto, para a maioria dos leitores da língua portuguesa, isso pareceria incomum e estranho, sendo que o sentido é obviamente passado. Por essa razão, o presente histórico do grego usualmente é representado, na maioria das traduções, pelo passado simples, como eu vi, tu andaste, ele falou.
Notemos que os dois verbos que foram utilizados por nós, verbos esses que aparecem em Marcos 4.38, na nossa versão em português: “E Jesus estava na popa, dormindo sobre o travesseiro; eles o despertam e lhe dizem: Mestre, não te importa que pereçamos?” Em outras versões, não só em português, mas em outros idiomas, esses dois verbos aparecem no passado simples, “despertaram” e “disseram”. Mas você pode perceber que o presente histórico que aqui é referido na nossa versão portuguesa, torna a narrativa mais vívida. Marcos utilizou esse recurso da gramática grega por mais de cento e cinqüenta vezes.
Outras características do estilo de Marcos também aumentam o realismo e o drama de sua narrativa. Ele usava muitas frases que fornecem detalhes vívidos e descritivos.
Continua no próximo post.


quarta-feira, julho 19, 2017

Introdução ao Novo Testamento - 14.


Continuação do post anterior.
Evangelho de Mateus (continuação).
Eventos e Ensinamentos. No evangelho de Mateus está assinalada uma dupla divisão fundamental, a saber:
  1. O período de aceitação pública e de popularidade de Jesus (Mateus 4.17 a 16.20);
  2. O período de declínio no favor do povo e Sua rejeição final (Mateus 16.21 a 28.10).
Cada uma dessas divisões começa com estas palavras: “Daí por diante passou Jesus a...” e “Desde então começou Jesus a...” Essa divisão revela o fato de que após certo tempo, em Seu ministério, Jesus começou a dar mais atenção aos seus discípulos e a treiná-los.
Os ensinamentos incluídos no evangelho de Mateus acham-se agrupados por tópicos, formando cinco seções principais. Cada uma dessas seções termina mediante uma frase como: “E aconteceu que, concluindo Jesus essas palavras (ou instruções, ou parábolas, ou ensinamentos)...” Essas seções são concluídas a partir dos versículos Mateus 7.28; Mateus 11.1; Mateus 13.53; Mateus 19.1 e Mateus 26.1. Além dessas cinco seções de ensinos, também chamadas de “os cinco Sermões de Jesus”, a saber - Sermão da montanha, Sermão da missão, Sermão das parábolas, Sermão da comunidade e Sermão escatológico - existem duas outras: a pregação de João Batista (Mateus 3.1-12) e a Grande Comissão (Mateus 28.18-20).
Deve-se incluir, também, no último discurso (Sermão), de Mateus 23.1 em diante, isto é, deve-se considerar como um só os dois discursos de Jesus, a saber, um contra os escribas e fariseus (capítulo 23) e o outro sobre as últimas coisas e o juízo universal (capítulos 24 e 25). Talvez tenha sido essa a intenção de Mateus, o contraste entre o “Juízo sobre os adversários” e o “último Juízo”, sobre o qual os discípulos foram instruídos em particular, que deva ser apresentado em uma única seção didática. Então sob esse aspecto temático temos o seguinte quadro:
  1. Seção didática sobre a verdadeira justiça” – Mateus, capítulos 5 a 7;
  2. Seção didática sobre o verdadeiro discípulo” – Mateus 9.35 a 10.40;
  3. Seção didática sobre o reino de Deus” – Mateus capítulo 13;
  4. Seção didática sobre a verdadeira fraternidade” – Mateus capítulo 18: e,
  5. Seção didática sobre o juízo” – Mateus capítulos 23, 24 e 25.
Esboço. Como o evangelho de Mateus é considerado o evangelho do Rei Messias, o seu esboço apresenta quatro divisões principais de ensinamentos:
    1. - O Rei é apresentado (Mateus 1.1 a 4.11);
    2. - O Rei anuncia o Reino (Mateus 4.12 a 15.20);
    3. -. O Rei é rejeitado (Mateus 15.21 a 20.34); e
    4. O Rei triunfa (Mateus 21.1 a 28.20).
Quando lemos o evangelho de Mateus, percebemos o quanto Jesus Cristo é realmente um Rei glorioso e vitorioso! Não mais continuemos duvidando do fato de que Ele é Rei. Convidemos a Jesus para vir reinar em nossos corações. Busque o Seu reino acima de todas as coisas.
Continua no próximo post.

sábado, junho 17, 2017

Introdução ao Novo Testamento - 13.


Continuação do post anterior.
O evangelho de Mateus.
Com toda a propriedade o evangelho de Mateus aparece como o primeiro livro do Novo Testamento, pois seu conteúdo provê um elo apropriado entre o Antigo e o Novo Testamento.
De acordo com a tradição, o evangelho de Mateus foi escrito por Mateus, o publicano, um dos doze discípulos de Jesus (Veja em Mateus 9.9-13 e 10.3). Provavelmente Mateus escreveu seu Evangelho em algum tempo entre 50 a 70 d.C.
Ênfase. Mateus ressaltou tanto a identidade quanto os ensinamentos de Jesus. Referiu-se ao Antigo Testamento por mais de sessenta vezes, tendo destacado Jesus como o real Filho de Davi, o rei dos judeus, cuja vida cumpriu as profecias messiânicas do Antigo Testamento. Assim sendo, o seu evangelho forma uma ponte necessária entre o conteúdo do Antigo e do Nova Testamento. Nos escritos de Mateus, Jesus aparece não somente como um outro profeta ou mestre qualquer, mas como o próprio Filho de Deus que, um dia, haverá de sentar-se em Seu trono, na glória celestial, a fim de julgar todas as nações (vv 16.13-20; 25.31,32). Essa ênfase torna o evangelho de Mateus útil para demonstrar aos judeus que Jesus é o longamente esperado Messias que lhes fora prometido, aquele cuja vinda seus próprios profetas haviam predito. E também serve para ajudar aos gentios convertidos a compreenderem o pleno significado do Ministério de Jesus.
Além de ressaltar a identidade de Jesus como Messias, Mateus também chamou a atenção para os ensinamentos de Jesus. De fato, mais da metade do conteúdo do seu evangelho dedica-se a historiá-los. Ele incluiu diversas e longas passagens onde ficam registradas as palavras de Deus a respeito de certo número de importantes assuntos. Seu evangelho termina com a comissão dada por Jesus aos Seus seguidores, em uma incumbência na qual o próprio Jesus frisou a importância de Seus ensinamentos: “portanto ide, ensinai todas as nações... ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado...” (Mateus 28.19,20).
Além da ênfase dada por Mateus sobre o cumprimento das profecias do Antigo Testamento, na vida e nos ensinamentos de Jesus, há algumas outras características especiais encontradas em seu evangelho.
Ênfase sobre a Realeza e sobre o Reino. Mateus é o evangelho da realeza e do reino de Jesus. Desde sua primeira página, Jesus é identificado como o real filho de Davi da casa de Judá (vv. 1.1,3). Os sábios ou magos que vieram do oriente à procura de Jesus por ocasião de Seu nascimento, perguntaram onde havia nascido “o rei dos judeus” (vv 2.1,2). Durante o Seu ministério, Jesus falou por muitas vezes a respeito do Seu reino (vv 16.28). Através desse primeiro evangelho há trinta e oito referências ou ao “reino de Deus” ou ao “reino dos céus”. Uma semana antes de ser crucificado, Jesus entrou em Jerusalém como seu rei, cumprindo a profecia que aparece em Zacarias 9.9 (Mateus 21.1-11).
Embora os judeus se tenham recusado a reconhecer que Jesus era rei, outros o reconheceram como tal. A mulher cananéia que veio rogar a Cristo em favor de sua filha que padecia, chamou-O pelo Seu título real “filho de Davi” (v 15.21). Pilatos escreveu essas palavras em uma tabuleta e a colocou sobre a cruz de Cristo. A tabuleta dizia: “Este é Jesus, o rei dos judeus” (v 27.37).
A Atenção Dada aos Gentios. Mateus incluiu material com fatos que demonstravam o seu interesse pelos gentios. Por exemplo, ele dá os nomes de duas mulheres gentias em seus registros sobre os antepassados de Jesus (v 1.5 – Raabe e Rute). Falou sobre os magos que vieram do oriente, a fim de adorarem a Jesus (v 2.1,2). Registrou a declaração de Jesus sobre o fato de que o reino de Deus seria tirado dos judeus e dado a um povo que produziria os seus frutos (v 21.43), e encerrou o seu evangelho com a Grande Comissão, na qual Jesus disse que Seus seguidores fizessem discípulos de “todas as nações” (v 28.19).
Menção à Igreja. Entre os quatro evangelhos, o de Mateus é o único no qual aparece a palavra igreja. Encontra-se ali por três vezes (uma em 16.18 e duas vezes em 18.17).
Outros aspectos exclusivos. Mateus contêm nove incidentes, dez parábolas e três milagres que não se encontram nos demais evangelhos. Entre essas coisas foram incluídas, por exemplo, a visão de José (1.20-24), a cura do mudo endemoniado (9.32,33) e as parábolas do trigo e do joio (13.24-30, 36-43), e dos talentos (25.14-30).
Conteúdo. O conteúdo do evangelho de Mateus é escrito em torno de um duplo esboço. Um deles tem a ver com os eventos da vida de Jesus, e o outro com os seus ensinamentos. Em ambos os casos, Mateus repetiu frases, a fim de assinalar as divisões.

Continua no próximo post. 

segunda-feira, maio 22, 2017


Introdução ao Novo Testamento - 12.
Continuação do post anterior.
Os evangelhos.
As quatro narrativas dos evangelhos se harmonizam entre si; mas, ao mesmo tempo, cada um deles é sem igual, porquanto cada escritor sagrado registrou a história de Jesus à sua maneira particular. Mateus refere-se a Jesus usando o título “Filho de Davi” por oito vezes. Marcos usou esse mesmo título apenas por duas vezes. Mateus deu mais ênfase ao cumprimento de profecias, por parte de Jesus; Marcos concentrou a atenção sobre os feitos de Jesus, entre outras diferenças.
Relação entre Mateus, Marcos e Lucas.
Todas as narrativas evangélicas seguem o mesmo padrão básico, no desenvolvimento da história de Cristo. Entretanto, os evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas são muito mais parecidos entre si quanto a essa questão, do que o evangelho de João. Eles contam a história da vida de Cristo quase da mesma maneira, algumas vezes usando até mesmo palavras idênticas. Por esse motivo receberam o nome de Evangelhos sinóticos (uma palavra grega que significa “ver junto com”).
Há muitas outras passagens bíblicas que exigem um similar grau de semelhança. Contudo, os evangelhos não são meras cópias uns dos outros, pois transparecem os seguintes fatos, quando o conteúdo dos mesmos é cuidadosamente comparado:
  1. Mateus e Lucas incluem quase todo o material que se acha em Marcos.
  2. Mateus e Lucas compartilham de duzentos versículos que não se encontram em Marcos.
  3. Um terço do volume de Mateus é exclusivamente dele.
  4. Metade de Lucas é exclusivamente dele.
Muitas explicações têm sido propostas como explicação desses fatos. Entretanto, as conclusões abaixo enumeradas parecem ser as mais aceitáveis:
  1. Desde o começo do Cristianismo, houve um conjunto de fatos conhecidos (chamado kerigma) sobre a vida de Cristo. Esse material era a mensagem central proclamada pelos apóstolos (Veja em Atos 2.22,23; 13.23-33 e 1 Coríntios 15.1-11).
  2. O evangelho de Marcos registra esse material básico. Foi escrito por alguém que conhecia pessoalmente os apóstolos e esteve intimamente associado à Igreja desde o começo.
  3. O evangelho de Mateus inclui esse material básico. Mas a isso Mateus acrescentou as notas que ele tomara dos ensinamentos de Jesus, os quais ele arranjou para adaptarem-se ao seu propósito, além de outro material.
  4. O evangelho de Lucas também inclui o material básico. Lucas adicionou considerável acúmulo de outro conteúdo histórico, resultante de suas próprias pesquisas. Parte desse conteúdo consiste em parábolas e milagres não registrados nem por Mateus e nem por Marcos. É possível que Marcos tenha obtido essas informações diretamente das pessoas que tinham ouvido Jesus ensinar e tinham experimentado os seus milagres.
Também devemos lembrar-nos que os autores dos evangelhos foram impulsionados pelo Espírito Santo. As decisões deles acerca do que incluir e como arranjar esse material foram efetuadas sob a Sua orientação. Podemos ter a confiança de que os registros de que dispomos são aqueles que Deus tencionou que tivéssemos.
Mateus e Lucas, ambos, incluem material básico a respeito de Cristo, conforme o registro de Marcos. Cada qual, então, adicionou material resultante de suas próprias pesquisas. Cada escritor sagrado tratou os fatos básicos segundo a sua perspectiva.
Continua no próximo post.