quinta-feira, agosto 02, 2018


Introdução ao Novo Testamento – 25.
Continuação do post anterior.
Tiago e Gálatas: cartas à jovem igreja.
Há várias epístolas do Novo Testamento relacionadas ao livro de Atos. É provável que essas epístolas tivessem sido escritas durante o período histórico abrangido pelo livro de Atos. Elas podem ser divididas em três grupos, conforme a seguir:
  1. Cartas provavelmente escritas antes do Concílio de Jerusalém, em Atos 15:
    1. Tiago
    2. Gálatas
  2. Cartas vinculadas à segunda e a terceira viagens missionárias de Paulo:
    1. 1 e 2 Tessalonicenses
    2. 1 e 2 Coríntios
    3. Romanos
  3. Cartas escritas durante o aprisionamento de Paulo em Roma:
    1. Efésios
    2. Filipenses
    3. Colossences
    4. Filemom
Neste post, vamos considerar as cartas pertencentes ao grupo 1: Tiago e Gálatas.
Tiago: Os padrões do homem piedoso.
Parece que a epístola de Tiago foi escrita ainda no princípio da história da Igreja para os crentes que tinham sido judeus e que viviam em Jerusalém e noutras cidades já alcançadas pelo evangelho.
Autor. A maioria dos eruditos da Bíblia concorda que o autor da epístola de Tiago não foi Tiago, o discípulo de Jesus (Veja Mateus 4.21: “Passando adiante, viu outros dois irmãos, Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam no barco em companhia de seu pai, consertando as redes; e chamou-os” - RA), mas, Tiago, o irmão de Jesus (Veja Gálatas 1.19: “e não vi outro dos apóstolos, senão Tiago, o irmão do Senhor” - RA). Esse Tiago não creu em Jesus desde o princípio (Veja João 7.5: “Pois nem mesmo os seus irmãos criam nele” - RA). Porém, o Cristo ressurreto apareceu a ele (Veja 1 Coríntios !5.7: “Depois, foi visto por Tiago, mais tarde, por todos os apóstolos” - RA), e ele se encontrava no grupo que recebeu o Espírito Santo, no dia de Pentecostes (Veja Atos 1.14: “Todos estes perseveravam unânimes em oração, com as mulheres, com Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos dele.” - RA). As Escrituras indicam que ele se tornou um dos líderes da igreja de Jerusalém, tendo sido o moderador do Concílio de Jerusalém (Veja Atos 15.13,19: “Depois que eles terminaram, falou Tiago, dizendo: Irmãos, atentai nas minhas palavras. Pelo que, julgo eu, não devemos perturbar aqueles que, dentre os gentios, se convertem a Deus,” - RA). Paulo teve um encontro com ele e com os demais anciãos ao terminar sua terceira viagem missionária, a fim de narrar-lhes a obra de Deus entre os gentios.
Panorama histórico. Temos aprendido que a Igreja era fortemente judaica em seu caráter, a princípio. Quando estudamos a epístola de Tiago, vemos que seu conteúdo e estilo cabem bem dentro desse período inicial. Foi endereçada às doze tribos - uma típica expressão judaica (Veja Tiago 1.1: “Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos que se encontram na Dispersão, saudações” - RA). Emprega a palavra sinagoga para designar o lugar onde os crentes se reuniam (Veja Tiago 2.2: Se, portanto, entrar na vossa sinagoga algum homem com anéis de ouro nos dedos, em trajos de luxo, e entrar também algum pobre andrajoso” - RA). Vários personagens do Antigo Testamento são apresentados como exemplos, tais como Abraão (Veja 2.20-24: “Queres, pois, ficar certo, ó homem insensato, de que a fé sem as obras é inoperante? Não foi por obras que Abraão, o nosso pai, foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o próprio filho, Isaque? Vês como a fé operava juntamente com as suas obras; com efeito, foi pelas obras que a fé se consumou, e se cumpriu a Escritura, a qual diz: Ora, Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça; e: Foi chamado amigo de Deus. Verificais que uma pessoa é justificada por obras e não por fé somente” - RA), Raabe (2.25,26: “De igual modo, não foi também justificada por obras a meretriz Raabe, quando acolheu os emissários e os fez partir por outro caminho? Porque, assim como o corpo sem espírito é morto, assim também a fé sem obras é morta” - RA) e Elias (5.17,18: “Elias era homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos, e orou, com instância, para que não chovesse sobre a terra, e, por três anos e seis meses, não choveu. E orou, de novo, e o céu deu chuva, e a terra fez germinar seus frutos” - RA). Tais personagens eram familiares para os cristãos de origem judaica.
Outro fato sobre a epístola de Tiago leva-nos a crer que ela pertence ao período inicial da Igreja. Embora aborde questões relacionadas à Lei, não menciona a controvérsia acerca dos gentios ou da decisão tomada pelo Concílio de Jerusalém. Parece provável que Tiago discutisse sobre essa importantíssima questão, se o Concílio citado já tivesse sido realizado, sobretudo levando em conta que o autor evidentemente foi o líder desse Concílio.
Conteúdo e esboço. Nessa epístola dirigida aos seus compatriotas judeus que haviam aceitado a Jesus como seu Messias, Tiago exprimiu seu interesse por eles. Ele queria que eles tivessem a atitude correta diante das provações e tentações, a fim de porem em prática as crenças que professavam. Ele os advertiu sobre os perigos da cobiça e do viver egocêntrico encorajando-os a exercer fé em Deus. Enquanto você lê essa epístola, use o esboço abaixo para sua orientação:
Tiago: Os padrões do homem piedoso:
  1. Sua atitude mediante provação (Leia 1.1-18).
  2. Sua reação diante do Mundo (Leia 1.18-27).
  3. Seus relacionamentos (Leia 2.1-26).
  4. Sua maneira de falar (Leia 3.1-12).
  5. Sua sabedoria (Leia 3.13-18).
  6. Sua humildade (Leia 4.1-17).
  7. Sua paciência (Leia 5.1-12).
  8. Sua fé (Leia 5.13-20).
Continua no próximo post.

segunda-feira, junho 25, 2018


Introdução ao Novo Testamento – 24.
Continuação do post anterior.
2. A Igreja Passa por Mudanças (De Atos 8.4 a 11.18). O período de mudança foi o tempo no qual a mensagem do evangelho mais penetrou no mundo gentílico. Quando grandes números de gentios se converteram, o foco de atividades gravitou de Jerusalém para Antioquia. Esse período incluiu o ministério de Felipe, Pedro e João em Samaria e na Judéia (Atos 8.4-40), a conversão de Saulo de Tarso (Atos 9.1-31) e a pregação do evangelho nas cidades de Lida, Jope e Cesaréia (9.32-11.18).
Durante esse tempo houve uma gradual diminuição dos preconceitos contra os gentios. Pedro, por exemplo, ministrou aos samaritanos – um povo de origem mista, judaica e gentílica (Atos 8.14-17.25). Posteriormente, ele foi residir com Simão o curtidor (Veja em Atos 9.43: “Pedro ficou em Jope muitos dias, em casa de um curtidor chamado Simão” - RA). Anteriormente, Pedro, como judeu rígido, jamais ter-se-ia associado a um homem que ganhava a vida curtindo couros. Depois disso, entretanto, Deus o enviou a pregar a mensagem de Cristo a um centurião romano (Atos 10). Esses acontecimentos foram significativos, pois mostraram que os gentios estavam sendo aceitos como participantes do plano remidor de Deus.
3. A Igreja Gentia é Implantada (De Atos 11.19 a 15.35). Os acontecimentos que ocorreram quando estava sendo implantada a Igreja gentílica, incluíram o ministério de ensino de Barnabé e Paulo em Antioquia da Síria (Atos 11.19-30), a figura de Pedro na prisão em Jerusalém (Atos 12.1-25), a primeira viagem missionária de Paulo (Atos 13.1 a 14-28), e a decisão tomada pelo Concílio de Jerusalém a respeito dos gentios (Atos 15.1-35).
4. Paulo cumpre o seu programa (De Atos 15.36 a 21.16). Durante esse período, Paulo partiu para a sua segunda viagem missionária (Atos 15.36-18.22), e para a sua terceira viagem missionária (18.23-21.16). Paulo deu início a sua segunda viagem missionária ao visitar as igrejas que haviam sido fundadas por ocasião de sua primeira viagem missionária. Na oportunidade, Paulo queria continuar evangelizando na Ásia Menor, mas o Espírito Santo dirigiu-o na direção da Europa (Macedônia) (Atos 18.6-10). Em resultado, diversas igrejas foram iniciadas nas áreas da Macedônia e da Acaia. A terceira viagem missionária de Paulo finalmente levou-o a Éfeso, onde ele ministrou pelo período de três anos (Atos 19.10 e 20.31).
Após ter fundado igrejas cristãs nas regiões da Galácia, da Macedônia e da Acaia, Paulo permaneceu em Éfeso, que ocupava uma posição central. Dali ele podia comunicar-se facilmente com as igrejas em derredor, enquanto ministrava em Éfeso. Aparentemente, Paulo esperava que os anciãos da igreja de Éfeso continuassem a supervisionar as igrejas, porquanto foi a eles que conferiu suas instruções finais, ao partir para Jerusalém pela última vez (Atos 20.22-31).
5. Paulo é Aprisionado em Roma (De Atos 21.17-28.31). Os eventos que levaram ao aprisionamento de Paulo em Roma incluíram sua detenção e julgamento em Jerusalém (21.17-23.30), seu relacionamento em Cesaréia (23.31-26-32), sua viagem a Roma (27.1-28.15) e seu aprisionamento ali (28.16-31).
O livro de Atos fornece-nos um modelo para o trabalho missionário cristão (Veja Atos 1.8: “mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra” - RA). Nesse padrão, há três elementos que são claramente mencionados:
  1. O poder – O Espírito Santo.
  2. Os obreiros – Os cristãos.
  3. Os lugares – local, nacional e mundial.
O livro de Atos também mostra-nos a importância da oração no cumprimento do programa cristão. Os discípulos reuniram-se para orar, em atendimento a ordem de Jesus para esperarem pela descida do Espírito Santo (Veja em Atos 1.14: “Todos estes perseveravam unânimes em oração, com as mulheres, com Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos dele” - RA), e o Espírito realmente veio (Atos 2.1-4). Quando eram perseguidos por estarem testificando, os discípulos oravam pedindo coragem. De certa feita, o lugar onde eles estavam foi sacudido, e eles pregaram com destemor (Atos 4.23.31). Pedro e João oraram, e os crentes samaritanos receberam o Espírito Santo (Atos 8.14-17). A oração era, realmente, a prática da igreja primitiva (Veja em Atos 2.42: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações” - RA).
O livro de Atos mostra-nos que, sempre que indivíduos ou grupos de pessoas oravam, Deus os movia por meio do Espírito Santo. A mesma coisa sucede até hoje. Grandes reavivamentos têm acontecido, depois que grupos de fiéis começam a orar. Aprendamos não somente os fatos, mas igualmente os princípios espirituais do livro de Atos. Se seguirmos o padrão ali retratado, o reavivamento virá, e muitas pessoas serão atraídas para Cristo em resultado disso.
Continua no próximo post

sábado, abril 21, 2018


Introdução ao Novo Testamento – 23.
Continuação de post anterior.
Continuação das características especiais do livro de Atos.
3. O livro de Atos demonstra o verdadeiro caráter do Cristianismo. Quando a Igreja foi estabelecida, o cristianismo parecia ser uma seita ou um grupo especial dentro do Judaísmo. Jesus era o Messias prometido pelas Escrituras Judaicas, e no princípio, a Igreja compunha-se primariamente de crentes judeus. Porém, a mensagem de Cristo visava ao mundo inteiro (Veja Lucas 24.47: “e que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as nações, começando de Jerusalém” - RA). O livro de Atos descreve como o evangelho começou a atingir aqueles que não faziam parte da comunidade judaica.
Pedro, por exemplo, testificou principalmente a judeus. Mas Deus mostrou-lhe que havia aceitado os gentios que cressem em Cristo, e Deus usou Pedro para ministrar aos gentios (Veja em Atos 10). Paulo também pregou aos judeus, mas cada vez mais concentrava a atenção nos gentios, quando a maioria dos judeus rejeitou a sua mensagem (Veja em Atos 19.9,10: “Visto que alguns deles se mostravam empedernidos e descrentes, falando mal do Caminho diante da multidão, Paulo, apartando-se deles, separou os discípulos, passando a discorrer diariamente na escola de Tirano. Durou isto por espaço de dois anos, dando ensejo a que todos os habitantes da Ásia ouvissem a palavra do Senhor, tanto judeus como gregos” - RA; em Atos 26.16-18: “16 Mas levanta-te e firma-te sobre teus pés, porque por isto te apareci, para te constituir ministro e testemunha, tanto das coisas em que me viste como daquelas pelas quais te aparecerei ainda, 17 livrando-te do povo e dos gentios, para os quais eu te envio, 18 para lhes abrires os olhos e os converteres das trevas para a luz e da potestade de Satanás para Deus, a fim de que recebam eles remissão de pecados e herança entre os que são santificados pela fé em mim” - RA) e Atos 28.28: “ Tomai, pois, conhecimento de que esta salvação de Deus foi enviada aos gentios. E eles a ouvirão.” - RA). O livro de Atos mostra como ficou claro que o cristianismo não era uma seita judaica, mas uma forma de viver inteiramente nova, baseada na fé em Jesus como Filho de Deus e Salvador de todos os homens.
Além de mostrar a significação universal do cristianismo, o livro de Atos também defende o cristianismo contra falsas acusações. O livro de Atos dá evidências de que o cristianismo não era um movimento político cujo intuito fosse fazer oposição ao governo romano, conforme alguns, mentirosamente, diziam, Quando os judeus levaram Paulo ao tribunal, diante de Gálio, o proconsul, eles o acusaram de ensinar o povo a desobedecer a lei. Mas Gálio não aceitou o processo, dizendo que a acusação deles não era uma ameaça ao poder político de Roma. Lucas registrou outros incidentes que ilustram a mesma consideração.
4. O livro de Atos descreve o ministério de alguns dos mais proeminentes líderes que Deus usou para estabelecer a Igreja. À medida que crescia a Igreja primitiva, Deus foi levantando líderes que levassem avante o Seu propósito relativo a ela. Lucas falou sobre os ministérios de diversos desses líderes, embora concentrasse sua atenção principalmente em Pedro e Paulo. Na ocasião em que foi escrito o livro de Atos, era necessário mostrar que o apostolado de Paulo era validado pelos mesmos sinais que acompanhavam o ministério de Pedro. Ora, isso era importante porque, diferentemente de Pedro, Paulo não era um dos discípulos originais de Jesus. De fato, ele havia sido um amargo adversário da jovem Igreja (Veja Atos 8.3: “Saulo, porém, assolava a igreja, entrando pelas casas; e, arrastando homens e mulheres, encerrava-os no cárcere” - RA; em Atos 9.1-2: “Saulo, respirando ainda ameaças e morte contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote e lhe pediu cartas para as sinagogas de Damasco, a fim de que, caso achasse alguns que eram do Caminho, assim homens como mulheres, os levasse presos para Jerusalém” - RA). Lucas fornece bastante informação a respeito de Paulo, demonstrando que seu ministério contava com a aprovação divina. Ela demonstrava as semelhanças que havia entre os ministérios desses dois homens. Por exemplo, Lucas mostrou que ambos os homens ressaltaram a obra do Espírito Santo (Veja Atos 2.38; 19.2-6) e a importância da ressurreição de Cristo (Atos 2.24-36;13.30-37). Lucas também expôs alguns pontos que tornaram semelhantes os ministérios dos dois.
Juntamente com Pedro e Paulo, Lucas mencionou ou descreveu diversos outros líderes como João, Tiago, Felipe, Estevão, Barnabé e Apolo. Cada um desses homens participou dos acontecimentos ocorridos enquanto a Igreja progredia. Todos eles foram usados por Deus para trazer judeus, gentios e samaritanos, prosélitos e até mesmo ex-discípulos de João Batista (Veja Atos 19.1-3) para a nova comunidade espiritual tendo Cristo com seu centro.
Conteúdo.
1. A igreja é fundada (De 1.1 a 8.3) O período de fundação inclui a comissão dos discípulos para o trabalho deles (Atos 1.1-11), a vinda do Espírito Santo para conferir-lhes poder (1.11 a 2.47), os eventos associados à Igreja e ao testemunho do evangelho em Jerusalém (3.1-6.7) e a pregação e o martírio de Estevão com a perseguição resultante e a dispersão dos crentes de Jerusalém (6.8-8.3).
A descida do Espírito Santo, no dia de pentecoste, foi um evento de grande significação. Vinham peregrinos de várias áreas à Jerusalém, para celebrar a festa do pentecoste (Atos 2.5-12). Quando Pedro dirigiu-se a vasta multidão reunida naquele dia festivo, explicando o que acabara de suceder, peregrinos de todas aquelas áreas, estavam presentes entre a multidão. Sem dúvida, alguns deles estavam entre os três mil que responderam ao convite de Pedro.
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quarta-feira, janeiro 10, 2018

Introdução ao Novo Testamento – 22.
Continuação do post anterior.
Livro de Atos dos Apóstolos: o registro da Igreja em ação.
O livro de Atos nos mostra como o evangelho triunfou e se propagou a partir de Jerusalém, a capital religiosa do mundo judaico, chegando a Roma a capital política do mundo romano. Enquanto lemos, descobrimos que o Cristo ressurreto é o personagem central dessa história, porque mostra como Ele operava poderosamente através dos seus apóstolos e da Igreja, mediante o poder do Espírito Santo.
Autor, Propósito e Importância. O livro de Atos foi planejado para ser uma seqüência do Evangelho de Lucas. Trata-se da segunda porção da história dos primórdios do cristianismo, escrita por Lucas, companheiro de viagem e amigo chegado do apóstolo Paulo. Lucas foi testemunha ocular de muitos dos eventos descritos no livro de Atos. Sua presença a esses acontecimentos é indicada pelo uso do pronome “nós” (Veja em Atos 16.10: “Logo depois dessa visão, nós resolvemos partir logo para a Macedônia, pois estávamos certos de que Deus nos havia chamado para anunciar o evangelho ao povo dali” - NTLH; em Atos 20.6: “Depois da Festa dos Pães sem Fermento, nós partimos da cidade de Filipos. Cinco dias depois nos encontramos com eles em Trôade e ficamos ali uma semana” – NTLH e em Atos 27.3: “No dia seguinte chegamos ao porto de Sidom. Júlio tratava Paulo com bondade e lhe deu licença para ir ver os seus amigos e receber deles o que precisava” - NTLH, por exemplo). Guiado e inspirado pelo Espírito, ele usou seus dons literários e sua compreensão da história a fim de dar-nos um quadro vívido e exato dos anos iniciais da Igreja.
O Evangelho de Lucas termina com a ordem que Jesus deu aos Seus discípulos sobre terem de esperar pela vinda do Espírito Santo e com a narrativa de Sua ascensão (Lucas 24.49-51). O livro de Atos, por sua vez, começa com esses dois acontecimentos (Atos 1.4-9), e então passa a descrever as atividades dos discípulos, após a ascensão de Cristo. Os eventos descritos no livro de Atos seguem as ocorrências historiadas no evangelho de Lucas de uma maneira natural e lógica. Através do livro de Atos, Lucas continuou a instruir Teófilo na fé cristã, demonstrando-lhe a certeza de coisas em que fora instruído (Veja em Lucas 1.4: “a fim de que o senhor pudesse conhecer toda a verdade sobre os ensinamentos que recebeu”.- NTLH; e em Atos 1.1: “ Prezado Teófilo, No primeiro livro que escrevi, contei tudo o que Jesus fez e ensinou, desde o começo do seu trabalho” - NTLH).
O livro de Atos é importante porque nos provê um registro autorizado da formação da Igreja e das atividades dos líderes principais. Forma um elo entre os Evangelhos e as Epístolas, pois os Evangelhos contemplam o futuro estabelecido da Igreja, ao passo que as Epístolas partem do pressuposto que a Igreja já existia.
Características Principais. Lucas não tentou descrever tudo quanto ocorreu durante os primeiros dias da Igreja. Como habilidoso historiador, ele selecionou os incidentes mais importantes e significativos e mostrou como os mesmos amoldaram o curso total dos acontecimentos. Veremos as principais características de seu relato.
1. O livro de Atos ressalta a atividade missionária da Igreja. O trecho de Atos 1.8: (“Porém, quando o Espírito Santo descer sobre vocês, vocês receberão poder e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria e até nos lugares mais distantes da terra.” – NTLH) pode ser usado como um esboço básico do livro inteiro. Resume o progresso do evangelho durante trinta anos após o dia de Pentecoste. A mensagem de Cristo foi pregada primeiramente em Jerusalém (Atos 1-7), e então na Judéia e em Samaria (Atos 8-12); em seguida por toda a região norte do Mediterrâneo, sendo Roma o último local mencionado (Atos 13-28). Em consonância com sua apresentação histórica, Lucas registrou os nomes pessoais de vários oficiais romanos, associados aos eventos por ele historiados (Atos 24-26, por exemplo, onde Félix, Lísias, Pórcio Festo e o rei Agripa são mencionados). Pedro é o líder cristão principal nos capítulos 1 a 12, e Paulo, nos capítulos 13 a 28.
No livro de Atos vemos como os primeiros crentes reagiram aos mandamentos de Cristo para evangelizar o mundo. Ele mostra-nos seus problemas, bem como os seus triunfos. Também nos dá um exemplo prático de métodos missionários que podem ser seguidos hoje em dia na obra missionária.
2. O livro de Atos retrata a obra do Espírito Santo. O Espírito Santo estava envolvido em cada fase do estabelecimento e da expansão da Igreja. Outras verdades acerca do Espírito Santo podem ser vistas no livro de Atos. Notemos, por exemplo, o julgamento contra Ananias e Safira, por haverem mentido ao Espirilo Santo (Atos 5.1-11). Consideremos a reprimenda a Simão por haver tentado comprar o dom do Espírito Santo (Atos 8.18-23).
O livro de Atos dá evidências da realidade e da presença do Espírito Santo. Mostra que a Igreja é uma realização sobrenatural de Deus, tendo sido trazida à existência, e sido capacitada, guiada e sustentada pelo próprio Espírito de Deus. Não há outra explicação para o seu sucesso e persistência, em meio às severas perseguições e oposições às quais foi sujeitada.

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terça-feira, dezembro 19, 2017

Introdução ao Novo Testamento - 21.


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Características Especiais. O Evangelho de João tem muitas características especiais. Dentre essas, examinaremos três que são as mais notáveis: sua relação com os Evangelhos sinóticos, seu vocabulário e seu ponto de vista distinto de Cristo.
Relação com os sinóticos. Ao compararmos o Evangelho de João com os evangelhos sinóticos, ficamos impressionados com o contraste. Apesar das distinções existentes entre eles, os três Evangelhos sinóticos ainda se parecem muito mais entre si do que qualquer deles se assemelha com o Evangelho de João. Por exemplo, o ministério de Jesus na Galiléia geralmente ocupa o maior volume dos evangelhos sinóticos. Porém, o ministério de Jesus na Judéia recebe atenção quase exclusiva da parte de João. Com a exceção dos dois milagres registrados em João 6.1-24 e a narrativa do julgamento, da morte e da ressurreição de Jesus, o conteúdo do Evangelho de João não aparece nos outros Evangelhos.
Porém, apesar desses contrastes, há alguns elos importantes entre João e os sinóticos. Apesar de que a maior parte do material de João é diferente do material dos Evangelhos sinóticos, nada desse material se contradiz. Pelo contrário, geralmente suplementa e provê o pano-de-fundo dos eventos que descrevem. Por exemplo, mediante um estudo de Mateus, Marcos e Lucas, devemos concluir que o ministério de Jesus durou um pouco mais de um ano. Mas João menciona três festas da Páscoa, festividades essas que ocorriam apenas uma vez em cada ano. Assim, sabemos que o ministério de Jesus ocupou, pelo menos, três anos. A informação dada por João, pois, ilumina o ponto de vista sinótico da vida de Jesus, fazendo-o ainda de outras maneiras.
Temos verificado que João tinha um certo alvo em mente, ao escrever sua narrativa. É possível que quando ele escreveu o seu Evangelho, os três evangelhos sinóticos já estivessem em circulação entre os cristãos da época. Sem se importar se isso foi assim ou não, o fato é que ele não os duplicou. Conforme o Espírito Santo o orientou, ele se valeu de sua larga e rica experiência como o discípulo a quem Jesus amava, e apresentou a sua percepção ímpar de Cristo e de Sua missão. Hoje em dia, beneficiamo-nos com os profundos discernimentos e com as verdades que Deus lhe deu para ele compartilhá-los conosco.
Vocabulário. Certos termos são usados com maior freqüência no Evangelho de João do que nos Evangelhos sinóticos. Entre esses alistamos os seguintes: permanecer, crer, festa, judeus, luz, vida e viver, amor e amar, verdade e verdadeiro, testemunha e mundo. Esses termos têm sentidos especiais. Precisam ser cuidadosamente estudados, pois com freqüência provêem a chave para os pensamentos expressos por João.
Ponto de vista distinto de Cristo. Todos os quatro Evangelhos apresentam Cristo como o Filho de Deus. Porém, foi João quem declarou o fato mediante a linguagem mais franca, dizendo que Jesus é Deus e sempre existiu (João 1.1,14; 8.58; 17.5). João começou a sua narrativa não à parte do começo, mas no começo. Para João, Belém e a manjedoura não assinalou o começo da existência de Cristo, mas apenas o tempo em que Ele se tornou “carne”.
O evangelho de João também revela outra verdade acerca da vontade de Cristo. João percebeu que Ele era o Verbo. Entre os escritores bíblicos, João foi o único a usar esse termo em alusão a Jesus. Conforme seus leitores o entendiam, a palavra verbo tinha diversas associações. No seu uso ordinário, salientava os meios mediantes os quais os homens se comunicam uns com os outros. Para os judeus “o Verbo de Deus” ou “a Palavra de Deus”, era uma expressão familiar, encontrada no Antigo Testamento (Salmo 33.6, como um exemplo). Alguns dentre os judeus aplicavam essa expressão ao Messias que viria. Para os gregos, porém, significava a manifestação da razão divina. João falou de todos esses significados quando asseverou ousadamente que Jesus era o Verbo de Deus. Dessa maneira, mostrou, tanto para os gregos quanto para judeus, que Jesus era Deus comunicando-se com os homens, como a plena expressão de Sua razão, vontade e propósito, feita de um modo que o homem fosse capaz de entendê-los.

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sábado, novembro 11, 2017

Introdução ao Novo Testamento – 20.
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João: Evangelho do Filho de Deus.
Para muitos o Evangelho de João é o livro preferido das Escrituras. Reveste-se de uma qualidade única de profundeza e beleza espiritual; Sua mensagem arrebata a imaginação e desafia o coração de maneira corajosa e desafiadora. Foi escrito pelo apóstolo João, “o discípulo a quem Jesus amava”, e põe o leitor em íntima comunhão com o Mestre, tal como experimentaram aqueles que andaram mais próximos do Senhor. Quando estudarmos as verdades ali apresentadas, que nossa comunhão com Jesus se torne ainda mais íntima e rica, como resultado.
Autor. A maioria dos eruditos da Bíblia concorda que João, o apóstolo, foi autor do quarto Evangelho. Ele foi um dos doze discípulos de Jesus. Juntamente com Pedro e Tiago, ele fazia parte do “círculo íntimo” dos mais chegados associados do Senhor (Veja Marcos 5.37; 9.2; e 14.33). Ele era “aquele a quem Jesus amava” (Veja em João 13.23; 19.26; 20.2; e 21.7,20). Tiago era irmão de João, e ambos eram filhos de Zebedeu (Mateus 5.21). João foi testemunha ocular dos acontecimentos por ele registrados (Veja João 1.14; 19.35; e 21.24).
Ênfase. O próprio João declarou claramente o propósito que tivera ao escrever o relato da vida de Jesus Cristo: “Jesus, pois, operou também, em presença de seus discípulos, muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para que creias que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (João 20.30,31).
Vemos, então, que João selecionou cuidadosamente a sua matéria com um alvo específico em mente: levar as pessoas a crerem que Jesus é o Filho de Deus. A matéria escolhida por João enfatizava as obras e as palavras de Deus. Juntos, esses fatores formam evidências convincentes de que Jesus era aquilo que afirmava ser. João também mostrou como o povo reagiu a Jesus Cristo. A reação deles ilustra o seu tema central da fé.
João dava atenção às obras realizadas por Jesus. As narrativas de sete milagres estão incluídas em seu Evangelho. João denominou esses milagres de sinais, pois mostram coletivamente a completa autoridade de Jesus como o Filho de Deus, salientando inequivocamente a Sua deidade.
Além desses sete sinais, há mais um, o maior de todos: a ressurreição de Jesus dentre os mortos (João 20 e 21). Nas palavras do apóstolo Paulo, Jesus foi “... designado Filho de Deus em poder... pela ressurreição dos mortos...” (Romanos 1.4). Esse acontecimento foi a prova coroadora de que Jesus é o Filho de Deus.
João também salientou as palavras de Jesus. A maioria dos discursos por ele registrados compõe-se de aspectos de Sua pessoa. Destacados pelo próprio Jesus. Entre esses estão as sete grandes passagens do “eu sou”, que são as seguintes:
1. “Eu sou o pão da vida” - João 6.35.
2. “Eu sou a luz do mundo” - João 8,12 e 9.5.
3. “Antes que Abraão existisse, eu sou” – João 8.58.
4. “Eu sou o bom pastor” – João 10.11.
5. “Eu sou a ressurreição e a vida” – João 11.25.
6. “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida” – João 14.6.
7. “Eu sou a videira verdadeira” – João 15.1.
Muitos eruditos da Bíblia encaram essas declarações de Jesus como expansões do trecho de Êxodo 3.14, onde Deus diz a Moisés que Seu nome era “Eu sou”. Elas mostram não somente a deidade de Cristo (João 8.58), mas também mostram como Ele revelou o Pai.
Além dessas passagens, João incluiu muitos outros ensinamentos importantes, como aqueles a respeito do novo nascimento (João 3), a água viva (João 4), a autoridade do Filho (João 5) e a obra do Espírito Santo (João 7.14,16). Ele também registrou a oração de Jesus acerca de si mesmo e de Seus discípulos (João 17). Essa oração ilumina ainda mais a sua natureza, a Sua unidade com o Pai, e o Seu propósito eterno para todos aqueles que nEle confiarem.
Juntamente com essa ênfase sobre as palavras e as obras de Jesus, João pôs em destaque as entrevistas pessoais de Jesus com diversas pessoas, homens e mulheres. João mostrou como Jesus os desafiou para crerem nEle. Essas entrevistas relatadas por João são vívidas ilustrações do tema principal do Evangelho de João – a fé em Jesus Cristo.
Quando alguém examina o registro de João sobre as palavras, as obras e as entrevistas pessoais de Jesus, não pode ter dúvidas sobre a razão de ele ter escrito o seu testemunho: expor a verdade que a fé em Jesus, o Filho de Deus, é a única e essencial chave da própria vida (João 3.36).

Continua no próximo post.

segunda-feira, outubro 09, 2017

Introdução ao Novo Testamento - 19.


Continuação do post anterior.
Continuação do Evangelho de Lucas.
Conteúdo. A seqüência de eventos, em Lucas, segue o padrão geral daquilo que aparece nos Evangelhos de Mateus e de Marcos. Também há considerável quantidade de material que só Lucas inclui. O alvo principal de Lucas foi apresentar Jesus como o homem perfeito, impulsionado pelo Espírito, Salvador de todos os homens. Seu Evangelho, entre os sinóticos, é o único onde o título específico, Salvador”, é usado para indicar Jesus (v. 2.11). O conteúdo desse Evangelho pode ser dividido em:
  1. O Salvador é preparado (Lucas 1.1 a 4.13).
  2. O Salvador ministra (Lucas 4.14 a 9.17).
  3. O Salvador entra em conflito (Lucas 9.18 a 19.28). Quase o conteúdo inteiro desta seção pertence exclusivamente a Lucas. Especificamente, a maior parte da matéria contida no trecho 9.51 a 18.14 e 19.1 a 19.28 se encontra apenas no terceiro Evangelho.
  4. O Salvador ganha a nossa Salvação (Lucas 19.29 a 24.53). Quando lemos o registro da vinda de Jesus, lindamente escrito por Lucas, vemos que Ele cumpriu a missão que Ele mesmo anunciou em 4.18,19. Vemos como o Espírito do Senhor desceu sobre Ele. Vemos como Ele pregou as Boas Novas aos pobres, anunciando a liberdade aos presos, restaurando a vista aos cegos, libertando os oprimidos e proclamando o ano do favor divino. Quão extraordinário Salvador!
Lucas pertence provavelmente à terceira geração cristã. O tempo e o lugar da sua atividade literária são incertos; provavelmente os anos 90, talvez na Ásia Menor. Exclui-se que o autor das duas obras lucanas seja testemunha ocular dos fatos narrados. Ele mesmo apela em Lucas 1.2 para “os que desde o começo foram testemunhas oculares e ministros da palavra“, isto é, para a tradição apostólica. Estas palavras se referem, antes de tudo, a tradição sobre Jesus, portanto ao conteúdo do Evangelho de Lucas.
O que Lucas escreve não é nenhum segredo, reservado aos que crêem; ao contrário, é acessível, mesmo aqueles que são alheios à tradição cristã e à exposição lucana, creiam ou não. Trata-se, com efeito, de fatos que “entre nós se realizaram” (Veja Lucas 1.1), logo de pleno domínio público. O pregador pode, portanto, supor que os ouvintes saibam de que se trata (Veja Lucas 24.18). Lucas luta por uma interpretação de acordo com a verdade, em comparação com a qual as falsas idéias, que devem ser rejeitadas, são “ignorância” (Veja Lucas 23.34). Consolidação e difusão da fé são as coisas mais importantes para o teólogo e historiador Lucas.
A forma expositiva lucana adota, portanto, uma posição intermediária entre pregação e informação. Isso se verifica especialmente quando se trata do conteúdo fundamental da pregação, isto é, da morte e da ressurreição de Jesus. Lucas quer mostrar que, apesar da Sua paixão e morte, Jesus é o Cristo porque Deus o ressuscitou. Esse argumento vale para os judeus, que se recusam a ver em Jesus, o Cristo, alegando que o Messias não morre e que, por isso, o Jesus crucificado não pode ser o Messias. Lucas tenta provar-lhes que o erro desta idéia foi demonstrado pela ressurreição de Jesus.
Lucas se compraz em salientar que os “pobres”, no sentido literal, sem a qualificação teológica de “pobres de espírito”, de Mateus (Veja Mateus 5.3), são os destinatários privilegiados da Boa nova (Veja Lucas 4.18; 7.22). Uma das bem-aventuranças de Jesus é endereçada precisamente aos pobres (Veja Lucas 6.20; 16.19-31).
Lucas não desenvolve nenhum modelo de vida cristã, na suposição de que cada época traga as suas próprias exigências. O caminho que leva ao reino de Deus passa pelas tribulações (Veja Atos 14.22). Pelo nome de Jesus o cristão deve estar pronto para aceitar em todas as circunstâncias as exigências da sua adesão a Cristo, até ao sacrifício da própria vida (Veja Lucas 9.23). Lucas procura, portanto, constantemente chamar a atenção do cristão para a responsabilidade que decorre para ele da sua situação pessoal.

Continua no próximo post.